Para aqueles que já tinham o desejo de sair do Brasil veem nesse momento de insegurança e crise financeira a oportunidade de tentar a vida em um outro país. Além das oportunidades de emprego outros motivos despertam a vontade do brasileiro de fazer as malas: transporte público de qualidade, segurança, educação, uma cidade com mais lazer, mais organização.
Acontece que morar fora requer um esforço redobrado, abrir mão do conhecido, ou seja, sair da zona de conforto, ficar longe da família e estar aberto à novas culturas, clima, comida. Para quem ainda não morou em outro país tem a ilusão de que morar fora vai resolver todos os problemas: ter um bom emprego, ganhar bem, viver num local mais organizado, onde as leis são respeitadas. Mas não é bem assim. Cada pessoa tem um perfil e objetivos diferentes. Fluência no inglês, formação acadêmica, recursos financeiros, retorno do investimento são alguns dos principais tópicos que devem ser levados em consideração antes de se mudar. Vamos a cada um deles então.
Para quem tem um inglês básico
Nesse caso a opção de quem se muda para um país e não fala quase nada da língua nativa é ir para uma escola de idiomas até estar preparado para ingressar num college. É importante alertar para aqueles que não sabem que o governo Canadense cancelou em junho de 2014 a permissão de trabalho para essa modalidade. Logo, quem optar por ir para uma escola de inglês não poderá trabalhar. Durante esse tempo terá que ter uma reserva ou ajuda da família para pagar as despesas.
Para quem tem um inglês de intermediário a fluente
Para quem se encaixa nesse perfil pode optar em fazer um college e ao mesmo tempo trabalhar por até 20 horas semanais (part-time) e quando concluir o programa trabalhar full-time (40 horas por semana). Para os casados (no papel ou não) é ainda melhor porque o parceiro (a) que optar por estudar, o outro entra como dependente e pode apenas trabalhar. Se a instituição que você escolher estiver na lista do governo, quando concluir o curso você pode aplicar para obter a permissão para só trabalhar, ganhando mais algum tempo permanência no Canadá. Confira se a o college que você escolheu está na lista: . Os gastos aqui nesse caso são para se manter até conseguir um emprego.
Formação acadêmica e emprego
Para quem é formado em ciências da computação, gastronomia, finanças, por exemplo, é mais fácil conseguir um emprego no Canadá por que o número de vagas é bem maior. Já quem tem a formação em comunicação, turismo, pedagogia, etc. tem uma certa dificuldade de achar de cara trabalho na área. Outras profissões são regulamentadas e precisam de certificação como médico, advogado, engenheiro. Aqui quero deixar claro que, não é porque você é programador que logo de cara vai conseguir um emprego na sua área ou que se é jornalista nunca irá conseguir emprego porque a concorrência é maior. Tudo vai depender do seu esforço em se inserir no mercado de trabalho, network e porque não de sorte não é mesmo?
No meu caso sou formada em Comunicação Social e quando consegui meu primeiro emprego foi em um supermercado. Cheguei a indicar no meu trabalho um amigo que conheci na escola e que é programador, mas ele ficou lá no mercado poucos meses e logo depois ele encontrou um emprego na área dele, mesmo o inglês dele não sendo tão bom naquela época. Ainda permaneci por mais algum tempo trabalhando no mesmo lugar e só depois consegui um emprego como assistente em administração, mas acabei perdendo a oportunidade porque faltavam poucos meses paro o meu visto vencer. Então aquela empolgação que eu tinha antes de ficar em Vancouver a qualquer custo foi enfraquecendo até que depois de quase três anos morando fora eu cansei. Eu não me via mais morando num lugar e trabalhando naquele tipo de emprego pro o resto da minha vida. Eu desejava mais e achava que com 2 ou 3 anos morando fora eu aprenderia o idioma, faria um network para me inserir na minha área e teria um emprego que eu gostasse.
Eu tentei muito mas não tive sucesso. Outro amigo que também estudou inglês comigo conseguiu freelas como cinegrafista. Esse mercado de trabalho é bem fechado, mas ele conseguiu indicação de um professor e trabalha até hoje com isso. Enfim, tenho vários outros exemplos para citar, mas o que quero dizer é que além da oferta, indicação e sorte contam muito em qualquer lugar do mundo.
Então para quem deseja morar fora tem que refletir se está disposto a abrir mão da sua carreira no Brasil e recomeçar em outro país trabalhando no emprego que surgir e ter paciência até conseguir algo melhor.
Recursos Financeiros
Sabemos que não dá para pensar apenas "ah, o Brasil não está mais dando pra mim, vou morar no Canadá" e pegar suas malas e ir. Você ou sua família tem que ter uma reserva para investir na sua viagem. Para conseguir o visto você precisa provar para o governo que tem como se manter durante o tempo de permanência no Canadá. Além disso tem de arcar com despesas como: passaporte, visto, escola, seguro saúde, passagens (isso quando estamos no Brasil); acomodação, transporte, alimentação, lazer (quando se está no destino escolhido).
Para quem vai estudar em uma escola de idiomas ou dependendo do college escolhido o valor tem que ser pago no ato, ou seja, não tem como parcelar, a não ser que isso seja feito com agências de intercâmbio brasileiras. Já um college de duração mais longa geralmente são pagos semestralmente, então da para ter um tempo para juntar e ter o dinheiro para as outras parcelas.
Retorno do que foi investido
Pode ser que você dê sorte e consiga um excelente emprego, ganhe mais de $30 por hora e consiga pagar as suas despesas e fazer um pé de meia. Mas para a grande maioria a realidade é de muita ralação. O começo geralmente é de empregos simples, ganhando o mínimo, que é de $10,45 por hora (em British Columbia) e tudo que é ganho é também gasto, às vezes pode nem dar para pagar tudo que se queira fazer. São poucas horas de diversão, sono, ou seja, não tem a moleza ou conforto que muitos têm no Brasil. A coisa é bem mais puxada do que se imagina. Aquela imagem bonitinha de que todos que moram fora vivem muito bem financeiramente e felizes é um mito. Sair do Brasil é entender que você vai ter que começar do zero e estar disposto a abrir mão de muita coisa e estar aberto à novas culturas.
Além do que foi citado acima, situações simples do dia a dia como: clima, comida, ausência da família, podem afetar seu humor e tornar aquilo que era um sonho em pesadelo. Entender que nem sempre as pessoas vão te tratar de forma amigável como é da cultura do nosso país, quem em boa parte do ano as temperaturas são baixas e no inverno elas podem ser negativas e com muita neve (dependendo da cidade do Canadá que você escolher para morar) e que por mais que tenhamos as redes sociais e todas as facilidades para se comunicar com a nossa família e amigos, ainda sim a saudade de casa é enorme.
Bom...se depois de analisar todos esses fatores você ainda se empolga com a ideia de ter experiências novas e está disposto a investir em algo desconhecido e fora do Brasil pode fazer as malas e se jogar pra esse novo mundo de oportunidades.
DICAS:
- Leia bastante, fale com quem já morou ou mora fora, procure saber como é o mercado de trabalho, college ou escola que se tem interesse estudar;
- Pense bastante nos prós e contras. Nesse momento de crise qual seu foco, quais as opções que você possui? Vale mesmo apena investir tudo o que tem em uma viagem para fora do Brasil?
- Tenha uma reserva para se manter no país estrangeiro enquanto passa pelo processo de adaptação e encontra um emprego. Os custos são altos e o retorno pode não ser satisfatório como se imagina.
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Fico por aqui e até o próximo post!